DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – DITADURA MILITAR BRASILEIRA E O CASO DAS MÃOS AMARRADAS - SISTEMA JURÍDICO DE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS: A DIGNIDADE HUMANA E OS DIREITOS HUMANOS COMO PROCESSO

  • Carolina Angelo Montolli Post-doctorado en Derecho Penal por la Universidad Nacional de La Matanza. Doctora en Derecho Público Internacional de la Pontificia Universidad Católica de Minas Gerais. Profesora de Academía de Policía de Minas Gerais y Escola Superior Dom Helder Camara. Abogada Criminalista BH, MG

Resumo

O objetivo principal desse trabalho é o de dar uma resposta a um problema que surgiu na contemporaneidade, que é avaliar o modo pelo qual o Direito tem sido utilizado em prol dos avanços sociais no Brasil, partindo do princípio e das mostras da litigância para a defesa do interesse público, sob a perspectiva dos direitos humanos considerados em todos os seus aspectos universais e indivisíveis. Principalmente, a partir do lançamento do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos, ocorrido em 21 de dezembro de 2009, que dentre suas metas, estabeleceu de forma inédita a criação de uma Comissão Nacional da Verdade com o objetivo de resgatar informações relativas ao período da repressão militar.

            Por isso procuramos buscar a compreensão da história, do discurso e da memória sob os parâmetros da lei de anistia, o direito à verdade e à justiça na ação afirmativa dos direitos humanos, através da objetividade, historicidade e relatividade da realidade jurídica brasileira, do Estado de Direito da justiça de transição, sob a ótica dos interesses militares, e o alcance da proteção normativa dos direitos humanos no Brasil.

Relatar e compreender nesse bojo de informações e à luz das instâncias internacionais e nacionais de que forma o Direito tem sido utilizado como instrumento de defesa dos interesses públicos, e qual tem sido o impacto dessas informações sobre a sociedade humana frente á história que paira sobre nossas cabeças como algo sem sentido e desprovido de qualquer utilidade.

            Uma vez que vemos que não há incorporação da jurisprudência da Corte Interamericana e dos parâmetros protetivos internacionais pelo Supremo Tribunal Federal, nesse caso. Mostrar a tensão existente dentro do governo, a respeito da política de Estado em prol da memória, verdade e justiça.

            E de que forma, podemos destruir o muro invisível existente em nossa sociedade, quando se questiona ou procura-se buscar respostas que estão naquele passado autoritário, para romper com essa barreira para então viabilizarmos o ritual de passagem à ordem democrática.

            Sabemos que não foram poucas as tentativas de intelectuais a investigar as origens daquelas formas autoritárias e opressivas que ainda se encontram no presente, e que ainda se deparam com um impasse analítico teórico desse problema. Afinal de contas ainda vivemos com o que comumente denominamos legado autoritário. Formas herdadas de um passado que pode ser analisado por sucessivas demonstrações de desrespeito aos Direitos Humanos e preceitos democráticos. Cremos que não há dúvidas de ver que a grande dificuldade em proteger e promover políticas ligadas aos Direitos Humanos encontra neste ponto uma de suas origens.

            Dessa forma pretendemos expandir o conhecimento sobre a história, memória e esquecimento, ressaltando os limites, e nos aprofundando sobre o que consideramos ético e moral, para investigar os paradigmas entre memória e esquecimento que estão presentes em debates sobre a preservação e divulgação dos arquivos que se encontram guardados a sete chaves, e que relatam a olho nu, o que ocorreu em meio aos conflitos, guerras e àquele período de repressão política.

            Os debates que vem ocorrendo tanto nos meios acadêmicos como na sociedade sobre esse período da nossa história, embora não dependam apenas de documentos e testemunhos, possuem neles um grande aliado.

            Posto isso, desejamos tão somente explicar quais são os fatores que determinam ou condicionam e o porquê da adoção de soluções em detrimento de outras e qual é o papel da Filosofia do Direito na compreensão da democracia inesperada e na ação afirmativa dos direitos humanos.

##submission.authorBiography##

##submission.authorWithAffiliation##

Carolina Angelo Montolli Carolina Angelo Montolli - Post-doctorado en Derecho Penal por la Universidad Nacional de La Matanza. Doctora en Derecho Público Internacional de la Pontificia Universidad Católica de Minas Gerais. Profesora de Academía de Policía de Minas Gerais y Escola Superior Dom Helder Camara. Abogada Criminalista BH, MG. 

Referências

AGGIO, Alberto; QUIERO, Gonzalo Cáceres. Chile: Processo político e controvérsias intelectuais. São Paulo: LUA NOVA. Revista de Cultura e Política. N 49, p. 87-111, 2000.

ALEXY, Robert. Teoria de la argumentación jurídica: la teoria del discurso racional como teoria de la fundamentación jurídica. Trad. Manuel Atienza e Isabel Espejo. Madrid: Centro de Estúdios Constitucionales, 1989.

ANDRADE, Everaldo de Oliveira. Bolívia, 1964 – Os militares também golpeiam. São Paulo: Projeto História. N. 31. P. 131-146. Dez. 2005.

ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo, Companhia das Letras, 1989.

____________. Ente o Passado e o Futuro. Trad Mauro W. Barbosa. – 6. ed. – São Paulo: Perspectiva, 2009.

ARISTÓTELES. “Ética a Nicômaco”. Coleção Os Pensadores, vol. II.São Paulo: Nova Cultural, 1987.

____________. "Poética". In: Os Pensadores. Trad. Eudoro de Souza. T. IV. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

ARNT, Ricardo. Jânio Quadros: o prometeu de Vila Maria. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações. 2004.

ARRUDA, José Jobson de A. História Moderna e Contemporânea. 8ª ed. São Paulo: Editora Ática. 1977.

ATIENZA, Manuel. Las Razones del Derecho. 3.A. Reimp. Teorías de la argumentación jurídica. México: Instituto de Investigaciones Jurídicas/Universidad Nacional Autónoma de México. 2007.

BARROSO, Luis Roberto. O Controle de Constitucionalidade no Direito Brasileiro. 3 ed. São Paulo: Saraiva 2004.

BELATTO, Luiz Fernando B. América Latina: 100 anos de opressão e utopia revolucionária. São Paulo: Revista Klepsidra. PUC. Edição nº 5. Dezembro/2000 – janeiro/2001. 2001.

BEZERRA, Paulo Cesar Santos. Acesso à justiça: um problema ético-social no plano da realização do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 2002.

BOBBIO, Norberto. Estado, Governo, Sociedade. Para uma teoria geral da política. 14. ed. São Paulo: Paz e Terra. 2007.
BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. Brasília: Editora UnB, 1999.
BOBBIO, Norberto. Direito e Estado no Pensamento de Emanuel Kant. Brasília: UnB, 1997.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.

BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 11. ed. São Paulo: Malheiros, 2002.

________________. Do Estado Liberal do Estado Social. Rio de Janeiro, Forense, 1980.
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Porto Alegre: SAFE, 1988.

CARVALHO NETTO, Menelick de. Requisitos paradigmáticos da interpretação jurídica sob o paradigma do Estado democrático de direito. Revista de Direito Comparado, Belo Horizonte, n. 3, 1999.

CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade; Machado, Felipe Daniel Amorim (org). Constituição e Processo: a resposta do constitucionalismo à banalização do terror. Belo Horizonte: Del Rey, 2009a.

CAZENAVE, Michel. Mythes et histoire. Paris: Albin Michel, 1984.

CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007.

CONNOR, Steven. Cultura Pós-Moderna: introdução às teorias do contemporâneo. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

COSTA JUNIOR, Ernane Salles; GALUPPO, Marcelo Campos. A democracia como promessa: entre a imprescindibilidade do cálculo e a experiência aporética da justiça. In:

COSTA JUNIOR, Ernane Salles. A Força Normativa da Memória Constitucional: uma análise da trivialização das reformas na Constituição de 1988 a partir da obra Revolução dos Bichos de George Orwell. In: Encontro Nacional do CONPEDI, 2009b, Maringá. Anais [recurso eletrônico] do XVIII Encontro Nacional do CONPEDI. Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito e Centro Universitário de Maringá (org). Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009b. 1 CD-ROM.
D´ARAÚJO, Maria Celina; SOARES, Gláucio Ary Dillon; CASTRO, Celso. ((introdução e organização). Os anos de chumbo. A memória militar sobre a repressão. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 1994. p. 13.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 23. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

DWORKIN, Ronald. Levando os direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

___________. Uma questão de princípio. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

FOUCAULT, Michel. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004.

GADAMER, Hans-Georg. A Virada Hermenêutica. Petrópolis, RJ: vozes, 2007.

GALEANO, Eduardo. As veias abertas da América Latina. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.
GALUPPO, Marcelo Campos; COSTA JUNIOR, Ernane Salles da. Filosofia da Libertação Latino-Americana, Pluralismo e a questão das Ações Afirmativas Étnico Raciais. Cadernos Camilliani, Espírito Santo. v. 9, n. 3, p. 35-46, set/dez 2008.

GALUPPO, Marcelo Campos. Os princípios jurídicos no Estado Democrático de Direito: ensaio sobre o modo de sua aplicação. Revista de Informação Legislativa, Brasília, a.36, n. 143, jul/set. 1999.

GARZÓN, Baltasar. Exposição sobre “Direito à Memória e à Verdade” - Sobre a ditadura militar. São Paulo, 18 out. 2008.

GASPARI, Elio. A ditadura escancarada. 8ª reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras.

GÜNTHER, Klaus. Uma concepção normativa da coerência para uma teoria discursiva da argumentação jurídica. Cadernos de Filosofia Alemã, 6, p. 85-102, 2000.

HABERMAS, Jürgen. Direito e Democracia entre a facticidade e a validade. 2. ed. Vol I e II. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

HART, Hebert L.A. O Conceito de Direito. Tradução de Armindo Ribeiro Mendes. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1986.

_______________. O Conceito de Direito. 3. ed. Tradução de Armindo Ribeiro Mendes Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001.
HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2008.

HOFFE, Otfried. Immanuel Kant. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

____________. Justiça política. São Paulo: Martins Fontes, 2006
Publicado
2015-12-16
Como Citar
MONTOLLI, Carolina Angelo. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – DITADURA MILITAR BRASILEIRA E O CASO DAS MÃOS AMARRADAS - SISTEMA JURÍDICO DE DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS: A DIGNIDADE HUMANA E OS DIREITOS HUMANOS COMO PROCESSO. Augusto Guzzo Revista Acadêmica, São Paulo, v. 1, n. 15, p. 228-254, dec. 2015. ISSN 2316-3852. Disponível em: <https://fics.edu.br/index.php/augusto_guzzo/article/view/274>. Acesso em: 01 oct. 2023. doi: https://doi.org/10.22287/ag.v1i15.274.

Palavras-chave

Proteção Internacional dos Direitos Humanos. Sistema Jurídico de Direitos Individuais e Coletivos. Caso Mãos Amarradas